Em cartaz no teatro do Centro Cultural Banco do Brasil, o espetáculo Maria Stuart conta a história do embate entre duas rainhas – Maria Stuart, da Escócia e Elizabeth I, da Inglaterra.
O texto, de autoria de Friedrich Schiller e tradução de Manuel Bandeira, data de 1800. Sua narrativa vai muito além de uma simples tragédia histórica. Schiller nos apresenta personagens dotados de múltiplas dimensões. Eles evoluem ao longo da trama não apenas guiados por seus instintos e convicções. Em diversos momentos eles abdicam de suas próprias vontades e acabam sendo guiados por atos coerentes com a função social e cargo político que ocupam, criando um interessante duelo entre o querer e o poder, numa equação bem balanceada pelo autor. Existe a ação pelo impulso. Existe a ação pelo raciocínio. Os personagens combinam maquiavelismo e romantismo. São vítimas e algozes. Tais artifícios garantem a eles um aspecto de humanidade. A todo momentos são expostas suas qualidades; medos e defeitos.
Dirigida por Antonio Gilberto, a atual montagem opta por uma estética mais contida, quase beirando o realismo. Optou-se por abrir mão de qualquer grandeloquência que pudesse mascarar ou potencializar as situações vividas no palco.
Tal linguagem também pode ser observada na simples, competente e funcional cenografia de Helio Eichebauer.
A iluminação de Tomás Ribas oscila entre o econômico e o excessivo, tornando-se por vezes incoerente, porém conseguindo alguns momentos plasticamante muito interessantes e sendo bastante eficaz em boa parte da apresentação.
Indiscutivelmente o ponto alto da peça são as interpretações. Elas conseguem de forma profunda e sutil materializar no palco com competência as emoções de cada personagem. A exceção fica por conta do insosso Mortimer, vivido por Renato Linhares. Se por um lado a interpretação de Linhares pouco acrescenta à encenação, também não chega a prejudicar. Entre os homens, destaca-se Ednei Giovenazzi representando Melvin, mordomo de Maria Stuart. Sua pequena participação na peça é marcante, conseguindo causar comoção à plateia. Dentre as atrizes, somos brindados com uma Julia Lemmertz defendendo com maestria o papel título. Entretanto, Julia não está sozinha nessa empreitada. Ela se vê obrigada a dividir o foco das atenções com Clarice Niskier, vivendo uma irretocável e altiva Elizabeth I.
Maria Stuart é um espetáculo de muitos acertos, mas possui uma grande falha: Seu ritmo. Do início até o intervalo é tudo muito ralentado, criando no espectador um cansaço físico e fazendo-o sentir o peso de cada minuto das três horas de duração da peça. Essa é a deixa para que pessoas acabem cochilando. Algumas tiram proveito do intervalo para discretamente abandonarem o teatro; deixando assim de assistir uma segunda parte um pouco menos arrastada, com movimentações mais interessantes e interpretações mais intensas.
A direção apresenta-se em alguns momentos como funcional e correta, e em outros errônea e desleixada. Como explicar os segundos em que não acontece absolutamente nada nas mudanças de uma cena para a outra, a não ser um palco vazio e o público esperando pelo próximo acontecimento? Falta fluidez nas ligações. Num contexto geral, podemos dizer que o trabalho do diretor configura-se como mediano; numa montagem que privilegia demais o texto e acaba deixando a encenação para segundo plano.
Se visto por olhos pacientes e bem dispostos, o espetáculo acaba oferecendo momentos inesquecíveis.