Junto ao segundo estrondo soado no Teatro I do CCBB, as cortinas se abriram de súbito, numa velocidade que difere, geralmente, da lenta maneira de revelar o espaço cênico por trás dos panos. O tom era de assombro, de urgência, e já nesse instante preliminar, o clima carregado que iria permanecer durante toda a encenação de Maria Stuart foi definido. Ou melhor, foi apenas reafirmado pela escolha do diretor Antonio Gilberto, pois é o clássico texto de Friedrich Schiller que dita as regras.
O imenso praticável de madeira que ocupava a maior parte do palco reduzia a movimentação da personagem-título, na pele de Julia Lemmertz, ao curto espaço frontal. A condição de prisioneira de Maria Stuart estava fisicamente representada, concomitantemente à sua posição acuada diante do conflito pessoal e moral com sua prima Elizabeth, rainha da Inglaterra. Desta forma, o texto de Schiller insere os conflitos pessoais das duas personagens num contexto histórico – uma das marcas dos últimos trabalhos do dramaturgo alemão -, criando um forte teor político na peça. A relação entre os principais países europeus no tempo narrativo (século XVI), por exemplo, se evidencia através das ações de todas as personagens em cena, e tal questão política é determinante, inclusive – e principalmente -, para a relação entre Elizabeth e Stuart.
O problema é que as duas atrizes principais não conseguem inserir a força necessária para as personagens com suas interpretações. Julia Lemmertz parece ter cada movimentação e gestos tão ensaiados, que acaba por apresentar uma atuação mecânica e por demais contida, ainda que se aproxime do tratamento ideal à personagem; por sua vez, Clarice Niskier soa mais natural no palco, mas era de se esperar uma vitalidade maior de sua Elizabeth, resultando cenas tão importantes, como a da assinatura do decreto para a morte de Maria, em momentos frios. O melhor do elenco fica por conta dos coadjuvantes Mário Borges e André Correa, os quais roubam a atenção quando em cena, seja pela naturalidade ao representar, seja pela concepção dada aos personagens.
Helio Eichbauer reconhece a densidade do texto e cria uma cenografia eficiente, prática e plasticamente discreta, em que apenas a textura crua da madeira predomina, mas opta por forrar o chão do palco com um vermelho intenso que dialoga com os figurinos de Marcelo Pies. Estes, além de visualmente atraentes – principalmente quando as cores se contrastam -, carregam informações importantes acerca dos personagens. Ambos os aspectos valorizados pela iluminação de Tomás Ribas, que dramatiza - como prova a última cena - e embeleza com seus efeitos (nota para o belo contra-luz que preenche o palco a cada movimentação de cenário).
Porém as quase três horas de peça podem causar desconforto; afinal, o texto de Schiller não é dos mais fáceis e a tradução de Manuel Bandeira mantém um português arcaico, preservando a estrutura em verso do original. Se a direção de Antonio Gilberto acerta na estética da peça, falha ao conceber uma encenação que não enriquece o texto, nem o faz alcançar proporções maiores, negligenciando, na maior parte do tempo, o pré-requisito de qualquer espetáculo teatral: atingir o espectador.
O imenso praticável de madeira que ocupava a maior parte do palco reduzia a movimentação da personagem-título, na pele de Julia Lemmertz, ao curto espaço frontal. A condição de prisioneira de Maria Stuart estava fisicamente representada, concomitantemente à sua posição acuada diante do conflito pessoal e moral com sua prima Elizabeth, rainha da Inglaterra. Desta forma, o texto de Schiller insere os conflitos pessoais das duas personagens num contexto histórico – uma das marcas dos últimos trabalhos do dramaturgo alemão -, criando um forte teor político na peça. A relação entre os principais países europeus no tempo narrativo (século XVI), por exemplo, se evidencia através das ações de todas as personagens em cena, e tal questão política é determinante, inclusive – e principalmente -, para a relação entre Elizabeth e Stuart.
O problema é que as duas atrizes principais não conseguem inserir a força necessária para as personagens com suas interpretações. Julia Lemmertz parece ter cada movimentação e gestos tão ensaiados, que acaba por apresentar uma atuação mecânica e por demais contida, ainda que se aproxime do tratamento ideal à personagem; por sua vez, Clarice Niskier soa mais natural no palco, mas era de se esperar uma vitalidade maior de sua Elizabeth, resultando cenas tão importantes, como a da assinatura do decreto para a morte de Maria, em momentos frios. O melhor do elenco fica por conta dos coadjuvantes Mário Borges e André Correa, os quais roubam a atenção quando em cena, seja pela naturalidade ao representar, seja pela concepção dada aos personagens.
Helio Eichbauer reconhece a densidade do texto e cria uma cenografia eficiente, prática e plasticamente discreta, em que apenas a textura crua da madeira predomina, mas opta por forrar o chão do palco com um vermelho intenso que dialoga com os figurinos de Marcelo Pies. Estes, além de visualmente atraentes – principalmente quando as cores se contrastam -, carregam informações importantes acerca dos personagens. Ambos os aspectos valorizados pela iluminação de Tomás Ribas, que dramatiza - como prova a última cena - e embeleza com seus efeitos (nota para o belo contra-luz que preenche o palco a cada movimentação de cenário).
Porém as quase três horas de peça podem causar desconforto; afinal, o texto de Schiller não é dos mais fáceis e a tradução de Manuel Bandeira mantém um português arcaico, preservando a estrutura em verso do original. Se a direção de Antonio Gilberto acerta na estética da peça, falha ao conceber uma encenação que não enriquece o texto, nem o faz alcançar proporções maiores, negligenciando, na maior parte do tempo, o pré-requisito de qualquer espetáculo teatral: atingir o espectador.
Jefferson Ribeiro
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