quarta-feira, 8 de julho de 2009

A Lenda do Príncipe que Tinha Rosto

A descrição da cena inicial de A Lenda do Príncipe que Tinha Rosto não trará à mente do leitor o potencial de impacto que a abertura do novo espetáculo infantil da Cia. de Teatro Artesanal pode originar no espctador. Mas para a plateia, dividida entre crianças e adultos, presente no Teatro do Jockey ficou evidente a potencialização estética que uma combinação coerente e harmônica entre os recursos teatrais e a música é capaz de resultar. A pantomima dos atores, a luz que colore o espaço e a melodia de Prokofielv presentes no prólogo da narrativa marcam o estilo predominante na encenação e torna-se o principal atrativo e diferencial que o espetáculo tem a oferecer.

Com um caráter gótico (segundos os diretores Gustavo Bicalho e Henrique Gonçalves, como uma referência aos filmes de Tim Burton), a peça narra a história de um Príncipe, que, ao nascer com rosto num reino onde todos são desprovidos do mesmo, é aprisionado na torre do castelo por seus pais. Lá ele passa sua infância, tendo contato apenas com sua ama e contando com visitas esporádicas de seus pais.

O diálogo sede lugar para a narração em off e trabalho de corpo dos atores, o que sempre é uma troca delicada. Em A Lenda do Príncipe que Tinha Rosto, porém, o negligenciamento do texto não se torna uma ressalva; a Companhia, aliás, ao optar por tal decisão, valoriza o visual e a diversidade de encenação ao utilizar bonecos, manipulado pelos próprios atores, e máscaras – que, de cor branca, contrapõe com o preto dos objetos e figurinos da peça e, por fim e não à toa, tende a ser o elemento mais destoante em meio à escuridão do ambiente.

A dramaturgia é que acaba se enfraquecendo à medida que o espetáculo avança. Enquanto que o uso de bonecos e o impacto inicial que a plasticidade da peça gera no espectador compõem um primeiro ato rico e atraente, o crescimento do Príncipe, realizado de maneira questionável por trazer o rosto do ator em cena e romper com o negro absoluto que ocultava a face dos atores, delimita não somente a mudança de ato, mas também quebra o ritmo que a narrativa possuía até o momento. Ainda que reserve espaços para pequenas surpresas, a prolixidade e o desfecho vago recebem, inevitavelmente, um peso no saldo geral do texto.
Mas A Lenda do Príncipe que Tinha Rosto é imagético. As imagens que permanecem na lembrança ao fim do espetáculo são maiores que os deslizes do texto - ou é possível se esquecer da cena do Príncipe, ainda criança, brincando com uma borboleta? Se a fala desaparece, a imagem precisa ganhar forma. E assim o espetáculo se sustenta.
Jefferson Ribeiro

Um comentário:

  1. Olá, Jefferson. Apenas hoje tive acesso a sua crítica.

    Observações anotadas. Realmente foi um grande desafio abrir mão do texto e acredito que, como um primeiro espetáculo com essa linguagem, chegamos bem próximos a alcançar o resultado desejado.

    Mas é claro, ainda há que amadurecer.

    Esse ano estamos estreando dois novos espetáculos, um adulto e outro infantil. Esperamos você por lá.

    Abçs.
    Gustavo Bicalho

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