terça-feira, 7 de julho de 2009

Um Hamlet hoje



“Hamlet é como uma esponja.
A menos que seja estilizado ou representado
com uma antiguidade, ele absorve imediatamente
todos os problemas de nosso tempo.”
Jan Kott
in: Shakespeare nosso contemporâneo, p 74.




O filme Hamlet (2000), de Michael Almereyda, atualiza a tragédia shakespeariana para os nossos dias. O reino da Dinamarca, local da ambientação original do texto de Shakespeare, foi transposto para o ambiente urbano e caótico da cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Para Almereyda, a Dinamarca agora é uma grande corporação e as personagens se movimentam ao redor desta empresa. O Rei Hamlet assassinado, foi convertido no filme para presidente desta corporação, assim acontecendo com Cláudio, que era irmão do comandante maior da “Denmark Corporation” e usurpou seu lugar de mandatário, Gertrudes é a mulher do dono da companhia e o troca por Cláudio. Polônio e Laertes, são empregados de confiança. O príncipe Hamlet foi convertido em um estudante de artes que retorna ao Hotel Elsinore, onde reside sua família, após a conclusão de seu curso de cinema e para o ambiente da empresa de sua família. Hamlet se depara com os fatos que aconteceram na sua ausência. A morte misteriosa do pai, o casamento repentino de sua mãe com seu tio. Na peça, personagens como Horácio e Marcelo eram soldados a serviço da coroa, no filme há mudanças significativas. Horácio passa a ser um amigo íntimo de Hamlet e Marcelo é agora uma mulher chamada Marcela, namorada de Horácio. Outra alteração de destaque no filme é o fato de o jovem Hamlet ser um videomaker e com o intuito de desmascarar seu tio ele monta um filme pra mostrar a todos da diretoria da empresa sobre o ocorrido. Esta passagem originalmente é executada por uma trupe de Teatro e em uma apresentação teatral.

Na peça do bardo inglês, o príncipe Hamlet já se encontra no reino da Dinamarca quando os fatos que se sucedem ocorrem, enquanto que no filme de Michael Almereyda, o jovem Hamlet, que aparece aqui nesta atualização como o filho do dono de uma grande corporação, que é chamado por seus funcionários de “rei” e, por esta razão, por associação, o rapaz é alcunhado de “príncipe”, que retorna à Nova Iorque após passar uma temporada fora para concluir seus estudos encontra seu ambiente familiar virado às avessas. Assim como na peça de Shakespeare foi mantida intacta toda a angústia, ódio, ciúmes, incertezas, dúvidas e inquietações de Hamlet.

Creio que a personagem de Ofélia foi a que menos alteração sofreu em Hamlet (2000), pois ela continua sendo uma jovem omissa e sem atitudes próprias e ainda é usada como joguete para que Cláudio, Gertrudes e Polônio alcancem seus intentos. No caso dos dois primeiros, a moça é usada para descobrir a causa do comportamento estranho de Hamlet e para seu pai (Polônio), Ofélia servirá de escada para uma futura ascensão a cargos mais elevados dentro da empresa Dinamarca. A personagem, mesmo nos dias de hoje continua sem iniciativas para conquistar o seu amor. A atitude de Ofélia certamente seria outra, pois acredito que ela se rebelaria e se oporia fortemente aos descalabros de Polônio, atualizando, portanto, a característica de Ofélia e colocado-a em sintonia com a proposta de Almereyda.

Hamlet (2000) tem abertura para questões contemporâneas que não estariam na peça. O exemplo mais claro para esta afirmação está na parte final do filme, que diz respeito ao duelo entre Laertes e Hamlet. Originalmente o embate entre eles ocorria com floretes em punho. Já na versão de Almereyda, esse confronto ocorre com armas de fogo. Laertes também faz ameaças a Cláudio, apontando lhe um revólver, para que este revele quem é o responsável pelo assassínio de seu pai. Outro modelo que aparece no filme e não na peça é o fato da agressão que Hamlet sofre. Este toma um soco de Cláudio e no texto original em nenhum momento existe esta passagem de que o Rei teria agredido fisicamente seu sobrinho/enteado. Além destes, outro que se pode destacar é o que diz respeito à execução do ardil de Hamlet. O jovem faz um filme para desmascarar a farsa de seu tio, no entanto, no original essa passagem se dá através da representação de uma peça teatral para a corte de Cláudio e há também a existência de uma companhia teatral.

Hamlet 2000 tem em seu elenco: Ethan Hawke(Hamlet), Kyle MacLachlan (Claudio), Diane Venora (Gertrude), Sam Shepard (Rei Hamlet / Fantasma), Bill Murray (Polônio), Liev Schreiber (Laertes), Julia Stiles (Ofélia), Karl Geary (Horácio), Paula Malcomson (Marcella), Steve Zahn (Rosencrantz), Dechen Thurman (Guildenstern).


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA KOTT, Jan. Shakespeare nosso contemporâneo. Trad.: Paulo Neves. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. p 69 – 82.

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