A onda de Tropa de Elite, 174 e Força Tarefa chegou ao SESC Copacabana com o espetáculo “Confronto – Sangrenta Madrugada Sangrenta”. Uma representação da violência urbana, que no cinema e na T.V. pode até empolgar o público, no teatro com as suas limitações cênicas não tem o mesmo efeito.
A peça foi escrita a seis mãos, Domingos de Oliveira, Luiz Eduardo Soares e Marcia Zanelatto, transpõem para o teatro os bastidores da cúpula da polícia carioca com enxurrada de palavrões. Situações de morte, traições, corrupção, sexo, drogas são mostradas sem aprofundamento. O texto em determinados momentos propõe uma entrega nas emoções vividas por esses seres que habitam esse Rio de Janeiro caótico e por vezes o texto é frio e distanciado. As falas do personagem Luís Felipe soam duras e artificiais na voz de Michel Bercovicth, um discurso politicamente correto, quase panfletário. O que é mais evidenciado na última cena, desnecessária, na qual o ex-secretário de segurança e atual locutor de rádio faz um discurso sobre a ética e sobre como a sociedade poderia se tornar . Algo que se adaptaria muito bem em uma boa montagem de Bretch, não soa natural.
A direção de Domingos de Oliveira em termos de marcação faz o que pode para solucionar o ingrato espaço do Teatro de Arena do Sesc. Porém na condução da encenação há erros primários como tiros não sincronizados, mortes onde os mortos continuam respirando, sangue que não existe, questões que se tivessem sido melhor trabalhadas fariam com que a platéia “comprasse” o que estava sendo contado, mas da forma que foi apresentada, acabou literalmente suicidando o próprio espetáculo. Tornando-se risível algo que estaria sendo mostrado para reflexão desses habitantes da cidade maravilhosa, purgatório da beleza e do caos.
O elenco é composto de 19 atores que de uma forma geral se comportam de forma bastante satisfatória, com destaque positivo para Camilo Bevilacqua, na pele do mau caráter chefe da polícia civil, e para Moises Bittencourt e Fernando Gomes como militares da inteligência. Um outro destaque é Paulo Giardini no papel do Governador do Rio de Janeiro, que impõe uma verve cômica ao espetáculo, através do cinismo da personagem, porém o sotaque paulista do excelente ator, estraga a credibilidade do mesmo. Alguém acredita que os cariocas votassem em um paulista para ser governador do estado? Seria difícil para o diretor propor uma neutralidade no sotaque do ator? Seria mais crível sem sombra de dúvidas.
Tratando-se de um teatro de arena a cenografia sempre é algo delicado, já que qualquer edificação pode significar a perda da visão por parte de algum ângulo da platéia. A solução dada foi de ter no chão de palco um desenho em forma de sangue escorrendo pelo ralo e quatro quadros pintados na parte superior das escadas, que pela localização não eram evidenciados. No mais, adereços como mesas e cadeiras serviam para compor todas cenas, não havendo diferenciação alguma se era a casa do Governador ou o presídio.
A luz de Russinho, supervisionada por Maneco Quinderé, é o ponto forte do espetáculo. Não só iluminando os atores, mas evidenciando o clima das cenas e servindo como solução para a deficiência do cenário, como na cena que Renata (Renata Paschoal) vai visitar Moisés (Marcello Pio) na prisão. Na qual um faixo de luz recorta o palco, dando a dimensão de uma grade separando as personagens.
É fato que o espetáculo não “decola” por causa dos problemas técnicos, pela falta de cuidado no acabamento, pela linguagem escolhida e pelo distanciamento que o personagem de Bercovitch tem em relação à questão da violência. A sensação que temos é que algo que poderia servir de reflexão para a população acaba escoando pelo ralo pintado no chão do palco.
domingo, 10 de maio de 2009
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