Escrito por Tom Stoppard, Rock´n´Roll conta a história de Max, um professor da Universidade de Cambridge (árduo defensor dos ideais marxistas), e Jan, estudante tcheco (que tem o rock´n´roll como sua grande paixão). A trama começa no ano de 1968 e termina em 1990; localizando-se em Praga, na República Tcheca (onde a Banda The Plastic People of the Universe torna-se símbolo de resistência ao autoritarismo comunista) e em Cambridge, Inglaterra (onde três gerações da família do professor marxista vivem seus dilemas).
A montagem dirigida por Felipe Vidal (que também assina a tradução do texto) e Tato Consorti, apresenta-se como extremamente convencional. Dessa forma, o que se vê no palco é uma representação que foge das ousadias ou qualquer espécie de personalismo adotado pelos diretores; cuja intenção parece ser contar a história da melhor forma possível, sem correr o risco de que alguma coisa não seja bem compreendida. A ação tem ritmo crescente, combinando com a proposta do texto, de ir atravessando diferentes épocas, sendo uma espécie de linha do tempo. Isso, porém, pode ser um problema: Se a peça vai ganhando força e ritmo conforme seu desenrolar, sua primeira parte acaba sendo arrastada, dispersa e cansativa. Conforme os anos (e os acontecimentos) vão se sucedendo, ganha-se força, dinamismo e consequentemente a atenção do público.
As mudanças de cena são pontuadas com músicas e projeções; numa linguagem que remete aos videoclipes, ilustrando os momentos históricos, políticos e sociais de cada época. A trilha sonora (também assinada por Tom Stoppard) é indiscutivelmente brilhante, trazendo ao público grandes clássicos do rock como Syd Barret, Bob Dylan, Rolling Stones, Pink Floyd, The Doors, Velvet Underground, John Lennon, Beatles, U2, entre outros. Os vídeos (elaborados pela Pavê Gastronomia Visual) também ajudam na compreensão dos fatos e localização histórica, e merecem destaque. O único problema é que são excessivos.
Tomás Ribas faz uma iluminação de extrema competência, criando sensações na plateia e complementando a cenografia. Sérgio Marimba opta por fazer um cenário com praticáveis móveis, mas as inúmeras vezes em que eles precisam entrar e sair de cena acabam se configurando um problema, exigindo um tempo maior para as transições. O cenário fica perdido, uma vez que não é nem totalmente realista, nem totalmente simbólico, mas sim um híbrido dos dois. Apesar disso, a direção de arte é competente e cuidadosa.
Otávio Augusto - no papel do professor Max - é um verdadeiro maestro em cena. Além de proporcionar à plateia uma interpretação indefectível, generosamente abre espaço para que seus companheiros também possam brilhar. Espaço esse que é sabiamente aproveitado por Gisele Fróes (Eleanor e Esme adulta), roubando todas as cenas em que está presente, e quase conseguindo ofuscar tudo o que está á sua volta no segundo ato. Em alguns momentos sua interpretação torna-se perigosamente maior do que a cena; tendo o público como seu fiel cúmplice. Thiago Fragoso faz um Jan empenhado e correto, mas não imprime ao estudante tcheco a força necessária. Apesar de seu personagem envelhecer ao longo da trama, esse envelhecimento só é percebido através da caracterização, uma vez que a interpretação mantém-se a mesma do início ao fim. Mas Thiago não é o único que não consegue envelhecer; e uma certeza nos domina ao fim do espetáculo: Quanto mais representativa uma música é do seu tempo, mais atemporal ela se torna.
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