Três amigos – Laura, Tomás e Cecília – estão reunidos para uma importante cerimônia: destruir todas as lembranças que os deixem infelizes. Logo perceberam que essa tarefa além de árdua é impossível. A memória, algo pessoal e compartilhavel, mas nunca transferível, não permite ser totalmente destruída – pelo menos não conscientemente. E através dessas próprias memórias que a narrativa se desenrola. Os amores que retornam, um passado que tenta a todo custo ser escondido mas que cada vez parece mais presente, uma filha vinda de uma experiência já esquecida, os gostos da infância, as historias ouvidas ou lidas... Tudo isso passa aos nossos olhos durante os 105 minutos de espetáculo que consegue prender a atenção do público como se só tivessem se passado alguns minutos. A linha de ferro responsável por muitos encontros e despedidas assiste também é responsável por muitos reencontros e “redespedidas” dos personagens – muitas das vezes – deles consigo mesmos.
O grupo é coeso e a direção de Paulo Moraes trabalha muito bem nesse sentido – explorando uma afinidade que vem de anos de trabalho. A interpretação é bastante afinada, mas claro, alguns destaques são inevitáveis. Verônica Rocha se sai muito bem num papel muito perigoso (o da pequena Natália de apenas 9 anos). A atriz encontra uma forma eficiente diante da sutileza que é interpretar um papel infantil sem se tornar caricata. Simone Vianna impressiona em seu trabalho corporal. Existem momentos em que consegue incorporar dois personagens completamente ao mesmo tempo – algo extremamente difícil mas que surge com uma naturalidade impar, muitas fazendo com que o publico quase consiga ver dois corpos em cena.
A peça possui inúmeros elementos de ilusionismo que encantam – mérito de Richard Goulart – o apito do trem, a famosa “luz do fim do túnel”, os carrinhos que se movimentam pelos trilhos, a lúdica montanha-russa (que nos leva de volta a infância)... O cenário de Paulo de Moraes e Carla Berri é provocador (com trilhos que sobem pelas paredes) e estimulante. E os atores sabem se apropriar de todas as suas possibilidades cênicas. A luz de Maneco Quinderé é muito bem conduzida e dialoga com o cenário muito bem. A trilha sonora de Rico Viana – cheia de clichês – cumpre bem seu papel de trazer a tona as memórias dos espectadores. Aliás, todos os elementos da peça buscam isso. È uma grande rememoração coletiva que emociona. Quando as luzes se acendem pode-se ver muitos olhos úmidos na platéia e muitos abraços ao sair do teatro. Com certeza, um espetáculo para se guardar na memória.
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