Em cartaz no teatro I do CCBB, está o espetáculo Maria Stuart, texto de Friederich Schiller, protagonizado por Julia Lemmertz, sob direção de Antonio Gilberto. Como se pode imaginar, a encenação é longa - pouco mais de três horas - e no entanto, em momento algum se torna cansativa, pelo contrário, a duração do espetáculo não é relevante, visto que muitos problemas técnicos são apresentados, apesar de não comprometerem a peça por completo.
A começar pela cenografia de Helio Eichbauer (que assina também a direção de arte). Pobre, é composta exclusivamente de um baú, um palanque e um trono, todos construídos em madeira, sem-qualquer beleza, porém muito funcionais, evitando o que é muito comum nas montagens dos grandes clássicos: a poluição visual. Caso houvesse maior cuidado, os elementos comporiam uma bela imagem da cena, mas parecem realmente inacabados. O mesmo se dá em sua direção de arte; falta um pouco de capricho no que diz respeito a estética geral da cena.
O figurino de Marcelo Pies é o grande erro do espetáculo. Além de não haver definição temporal (o que não seria tão grave assim), as vestes são constituidas de detalhes desnecessários e que pecam pelo excesso, como borrões de tinta ou efeitos gráficos, pretendendo dar um tom de “modernidade” a encenação, que nada tem de atual em sua proposta. Fora isso, estas vestes chamam tanto a atenção para si mesmas que destoam do conjunto.
Marcos Ribas de Faria preferiu optar pelo caminho mais fácil, sem-riscos. Sendo assim, sua trilha sonora é demasiadamente comum: músicas de época fazem pequenas interceções, quase imperceptíveis aos ouvidos da plateia. Não faria falta.
A iluminação de Tomás Ribas é muito irregular. No primeiro ato, a luz é feita praticamente em plano geral, enquanto no segundo, há angulações demais, ora criativas, ora pouco inspiradas, mas seu maior acerto se encontra na cena final – uma imagem belíssima das duas rainhas (Stuart e Elizabeth).
A direção de Antonio Gilberto é interessante, porém repetitiva quando se trata do enquadramento das cenas e posicionamento dos personagens. A ação é extremamente rígida, muito delimitada, por vezes, não natural. Contudo, determinadas imagens possuem um toque muito sofisticado do encenador.
O elenco é muito bem entrosado. Clemente Viscaino e Mario Borges estão bastante seguros nos papéis de Amias Paulet (carcereiro de Maria) e William Cecil (Grande-Tesoureiro), porém demonstram alguns vícios de interpretação, típicos de atores mais antigos. Já o papel de Mortimer, sobrinho de Amias Paulet, é de grande responsabilidade e infelizmente foi entregue nas mãos de um ator também cheio de vícios (Renato Linhares), mas desta vez não típicos de atores antigos e sim de atores inexperientes, que ditam incansavelmente a mesma melodia dos textos clássicos sem-sombra de verdade e com uma emoção explicitamente falsa. André Corrêa é um dos melhores atores em cena. Com um personagem cheio de sarcasmo (Robert Dudley, conde de Leicester), consegue brilhar em momentos ímpares. Amelia Bittencourt e Ednei Giovenazzi compõem uma excelente dupla de criados; são atores de altíssima qualidade. Vale ressaltar a interpretação emocionante de Ednei na cena em que Maria Stuart confessa seus pecados ao empregado. E por último, Julia Lemmertz e Clarice Niskier fazem duas rainhas brilhantes. A primeira, Stuart, é um monstro em cena, enquanto Elizabeth poderia ser um pouco mais imponente, mas isso provavelmente foi uma escolha pessoal da atriz que, por sinal, é muito talentosa. Quanto ao resto do elenco, não são suficientemente aproveitados para se poder julgar.
Enfim, Maria Stuart é um espetáculo de infiltrações corrompidas que, como dito anteriormente, não chegam a comprometer a encenação, mas deixam uma impressão negativa, um resquício de falta de comprometimento com a estética. O belíssimo texto de Schiller merecia uma montagem mais competente, mas, apesar dos pesares, vale o ingresso.
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