terça-feira, 16 de junho de 2009

inveja dos anjos, uma crítica



Queimar o passado e seus vestígios, esse é o mote para “Inveja

A queima do passado e de seus vestígios, esse é o mote para “Inveja dos Anjos”, último espetáculo do Armazém Companhia de teatro, dirigida por Paulo de Moraes, com dramaturgia do próprio e de Maurício Arruda. É o retorno da companhia à criação dramaturgica, e como tal, essa árdua tarefa de apagar o passado acaba por na prática aparecer como o contrário: o emergir de milhões de idéias, temas e histórias que viviam nas cabeças do atores prontas para serem postas em cena.

Três amigos reunidos ao redor de um trilho de trem, pesados pelas marcas de um passado que não retorna, mas que de certa forma, impede que haja um futuro, pois mostra em seu caminho a possibilidade da fuga ou da volta. Esse é só o começo da trama que em tom de memória começa a trazer pequenos fios, tecidos, de estórias de personagens que aos poucos, passam pelos trilhos passando pela gente assim como passaram pelos três.

O cenário de também de Paulo e de Carla Berri é de uma simplicidade imponente, porque ao mesmo tempo que usa o espaço da própria fundição como cenário, projeta em cena um enorme trilho de trem que se bifurca entre o céu e o nada, entre o imaginário e o real, formando um espaço tão próximo como uma casa ou tão distante como um restaurante de beira de estrada.

Contribuindo com a cenografia está a iluminação de Maneco Quinderé de certa forma traz o elemento do real para a cena, por isso é comum se ver nela elementos como os faróis de um trem ou abajures, ou a lua, ou o próprio fogo, que traz a sensibilidade dos ambientes, sempre entre o azul, o claro e o vermelho.

A trilha sonora de Ricco Viana formada por artistas conhecidos do público em geral como Janis Joplin, Radiohead, entre outros, servem para reforçar a aproximação, o afeto, as relações que o espetáculo pretende criar, primeiro entre atores e diretor, depois entre personagens e por fim entre atores, personagens e o público, que se não chega a viver vidas parecidas, pelo menos projetam para si o que a cena transfigura, o que de alguma maneira, se revela numa cena sem emoção caso não seja projetada nenhuma estória sobre àquela narrativa.

As personagens todas envoltas por um laço de amizade, que por um lado une e por outro as prendem àquele lugar, dialogam entre si num tom quase sombrio até que algum presente retorna à cena e se pode ver a ação delas para que algo na vida mude para melhor, ou se torne pelo menos, num sofrimento válido de se viver. Quanto às atrizes é bom e quase repetitivo ressaltar o excelente trabalho de Patrícia Selonk como Cecília, que participa não só das melhores cenas, prova de que no processo da montagem foi quem apresentou as melhores idéias, como também o maior controle de seu corpo e dos efeitos dele na cena e nos espectadores.

De qualquer maneira é um espetáculo que deve nos pegar pela parte da emoção, se não o fizer provavelmente o julgamento de gosto será prejudicado, o que no meu caso em particular não aconteceu, achei um espetáculo de grande capacidade de alcance, de sensibilização e que cumpre uma das principais funções do teatro: entreter com emoção e inteligência.


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