Rock and Roll chegou ao Rio de Janeiro cercado de uma enorme expectativa e calcado nos prêmios que as montagens Britânicas e da Broadway tinham rendido as respectivas produções. O texto do “inglês” Tom Stoppard, que na verdade nasceu em 1937 na então Tchecoslováquia, é situado em Cambrigde e em Praga, entre 1968 e 1990, soa como um pouco como se o autor quisesse falar das suas origens. Tom que é apaixonado pelo rock dos anos 60 e que também assina a excelente trilha do espetáculo .
A trama criada por Stoppard é sobre a amizade e o confronto entre Max, um professor da Universidade de Cambridge e marxista, e Jan, um jovem tcheco pupilo do mestre, que resolve retornar à Praga em 1968 para resistir a ocupação soviética com uma mala cheia de discos de rock and roll ocidental. Cada um quer mudar o mundo ao seu jeito e durante três décadas e duas horas e quarenta e cinco minutos de espetáculo, divididos em dois atos, eles voltam a se reencontrar cada qual com a sua concepção de revolução. Porém o texto não se foca apenas nas questões políticas e ideológicas. Max tem seus confrontos domésticos, o problema enfrentado por sua esposa Eleonor que está com câncer, uma filha alienada, um genro capitalista e Jan em Praga se depara com um sistema corrupto, manipulador, com amigos presos, namorada que o larga, falta de emprego e idealizando que a banda tcheca, The Plastic People of Universe se tornaria um símbolo de resistência contra a ocupação Russa.
Retratar um período tão longo e tão cheio de informações, passados em duas cidades tão distintas como Cambridge que “vive” uma Revolução Cultural e Praga ocupada pelos Solviéticos não é uma tarefa fácil. Acabamos vendo apenas um recorte de uma época, e que no fundo acaba sendo mais um apanhado de dados passados em ritmo frenético que um aprofundamento dessas questões. O problema em se escrever algo tão pessoal é que ao mesmo tempo é de uma riqueza impar e cheio de detalhes, mas que para quem está assistindo e não tem tanta ou nenhuma informação ou empatia com o assunto dá a impressão que Stoppard jogou vários ingredientes num liquidificador e fez um delicioso suco, mas que não conseguimos saborear cada ingrediente.
Não que tenhamos que nivelar por baixo, mas um grau tamanho de informações como nomes de várias bandas e vocalistas, palavras e nomes em Tcheco e em Russo, uma aula de Grego, métrica na poesia de Safo, câncer e o que ele faz com o corpo, somadas a ideologia comunista, marxista, com uma pitada de consumo drogas, alienação política, revolução cultural, passando por Madonna e Queen, uffa, acabam num texto verborrágico que em alguns casos, na boca de alguns atores, soam distantes, sem sentido e corridos. Não seria espanto ouvir de um espectador mais desatento a frase: “Afinal do que eles estão falando?”.
A sensação que o autor fez um desses sites de notícia, ele é bonito, bem escrito, agradável, faz um bom apanhado sobre saúde, comportamento, relações de amizade e familiares, com um pouco de conspiração, luta pelo poder, umas piadinhas para descontrair, toca uma excelente trilha de rock, mas que no final é mais alegórico do que questionador.
A estrutura rígida do texto foi mantida na tradução de Felipe Vidal, que reflete na direção do Tato Consorte e do próprio Vidal. Mantendo uma encenação correta, técnica, que não compromete o espetáculo e que evidencia a atuação dos protagonistas.
Otavio Augusto (professor Max) e Gisele Fróes (Eleanor no primeiro ato e Esmea adulta no segundo ato) se destacam no elenco, tendo atuações primorosas. Quando os dois estão em cena, o espetáculo ganha um ritmo e uma vivacidade de um rock clássico. Thiago Fragoso (Jan) acredita no seu personagem e é cativante. Um ponto a ser levantado nessa questão é atuação de Bianca Comparto que vive Esmea no primeiro ato, se compararmos a trajetória da personagem, que é bastante apagada na primeira parte e que surge na fase adulta na pela e alma de Gisele Fróes e que se torna o centro de atenção de todo o segundo ato. Podemos contatar que existe um grande problema, ou causado pelo texto, ou pela direção, pela atuação, ou por uma somatória desses três aspectos.
Sérgio Marimba emprega muito bem do conceito de recorte, com pequenos praticáveis que retratam parte da casa de Max em Cambridge, o quarto de Jan em Praga e o muro de John Lennon. O problema é como o texto é bastante fragmentado, há praticamente de quinze em quinze minutos uma troca de cenário prejudicando o ritmo da peça, a solução dada foi de passar vídeos com imagens e músicas da época e situando em que data cada cena acontece, mas no final o recurso fica repetitivo e cansativo e diminui um pouco o impacto da última cena que acontece o show dos Rolling Stones na República Tcheca. Os figurinos de Nello Marrese retratam bem o período e na identificação cultural e ideológica das diversas personagens.
A sensação é que dá é que pegamos um disco de vinil de uma excelente banda do final dos anos 60, que tem uma ótima capa ilustrada por Andy Warhol, com umas músicas com letras profundas e cantadas por um vocalista impar. Mas como todo vinil, por melhor que seja, ele é um vinil, quando ouvimos sentimos as imperfeições dessa tecnologia datada, imperfeições essas que não tiram a qualidade do produto, mas que comprometem um pouco o entendimento e o prazer de se apreciar. Ficando com aquela sensação, é bom, mas tinha tudo pra ser melhor.
domingo, 7 de junho de 2009
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