domingo, 21 de junho de 2009

No Campus de Algodão

Na Solidão dos Campos de Algodão de Bernard-Marie Koltès, que está em cartaz no Teatro Glauce Rocha, no Campus da Escola de Teatro da UNIRIO, é mais uma bela montagem de talentosos alunos que se formam todos os anos nesta escola. Optar por um texto “Clássico Contemporâneo”, de um dramaturgo francês, que propõe um fascinante diálogo filosófico e utiliza-se de metáforas para aproximar o universo obscuro em que se encontram os personagens da platéia, é, digamos, uma atitude arrojada e ousada para um jovem Diretor/Ator como Alexandre Rudáh. Orientado por Ricardo Kosovski e José da Costa, Rudáh propõe um mergulho do público nesta audição de um embate entre dois personagens, o dealer e o cliente, que alternam seus discursos, revelando suas idiossincrasias e suas fraquezas, fazendo com que a platéia ora se envolva com a sugestão do dealer, ora com a do comprador. Ambos estão impossibilitados de realizar suas sugestões porque não se apresenta o desejo concreto neste jogo dialético. O que ambos personagens afirmam é que não se pode confiar em ninguém . E é o que de mais forte e contundente Koltés nos oferece. Com isso, nos tornamos como dealer e o comprador, cada vez mais solitários e escorregadios, mais sonâmbulos e defensivos, mais ásperos e infelizes. Um texto amargo e poético, como esta montagem, neste quase inverno carioca. O cenário funcional de Dolores Marques e Bárbara Barbosa é composto por uma passarela sinuosa e suspensa que lembra uma onda contínua ocupando toda extensão do teatro. Em uma extremidade, a passarela se bifurca e sobe pela parede propondo caminhos que parecem não ter fim. Na outra extremidade há uma escada que parece ser o acesso para estes caminhos, que serão trilhados por todos inevitavelmente. A platéia está arranjada ao longo desta trilha acompanhando bem de pertinho o caminho de cada ator. A luz de Luiza Paes é o mecanismo fundamental nesta ambientação, provocando no espectador o desconforto do soturno, onde os atores, atuam entre sombras e clarões, que nos dá a sensação do ilícito e da atmosfera de transgressão dos personagens.
O figurino de Regilan Deusamar tem a eficiência de nos revelar de cada personagem um pouco daquilo que não é dito pelo texto. Como na grande capa que dealer carrega como um fardo ou uma cauda, nos fazendo lembrar os movimentos de um réptil.
Carla Martins, como o dealer e Maelcio Moraes, como o comprador, estão em perfeita sintonia com o caráter conflitante do texto, onde, cada um, tenta convencer o outro. Carla, com seu sotaque nordestino, encarna com muita presteza a força e a empáfia do vendedor,
enquanto Maelcio, surge como um selvagem, um quase primitivo, nos presenteando com uma tranquilidade e segurança compondo um personagem que cresce ao longo da peça.
Uma montagem que vale a pena, que precisa ser vista e ouvida mais de uma vez para que tenhamos tempo de degustar tantas proposições subjetivas e nos permitirmos a reflexão que este texto/tratado filosófico nos apresenta.

postando para Fernanda Oliveira

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