segunda-feira, 22 de junho de 2009

Quadros de Cinema no Teatro.

Confronto Sangrenta Madrugada Sangrenta” é uma adaptação executada em conjunto por Domingos Oliveira, Luiz Eduardo Soares e Marcia Zanelatto do livro “A Elite da Tropa”. Esse mesmo texto literário foi adaptado para o cinema, resultando no filme “Tropa de Elite”, grande sucesso de crítica e bilheteria. Foi certamente um desafio para os autores pegar um trabalho aclamado pela crítica e pelo público e transpor para o teatro. A adaptação é bem feita, a história é contada em quadros, com eventuais narrações de Domingos Oliveira entre eles, que ajudam a esclarecer os fatos. A cena começa numa mesa de bar, um reencontro em entre os dois personagens chaves e antagônicos, sentados relembram os fatos da tal “Sangrenta Madrugada Sangrenta”. Entre black outs as cenas são apresentadas para o público em ordem cronológica. A história é bem construída, quadro sobre quadro, que juntos adquirem em ordem crescente tensão e entendimento dos fatos e dos personagens junto ao público.
A encenação de Domingos Oliveira confere uma característica cinematográfica aos quadros, trocas de cena, movimentações dos atores, trilha sonora, iluminação, entre outros. Alguns bem sucedidos, outros não tão bem aproveitados. A iluminação de Russinho é mal elaborada, ao invés de verticalizar essa idéia dos quadros cinematográficos no teatro, podendo definir melhor os limites, escolhendo o que está na penumbra, no escuro e no foco, a luz confunde. Fica no meio do caminho, nem ilumina corretamente - em alguns momentos vemos atores em cena fora da luz – nem consegue acompanhar a idéia da encenação.
O elenco é numeroso, são vários personagens, há uma demanda intensa de movimentação, agilidade e tensão dos atores. Muitos porém, não conseguem corresponder, é gritante a diferença entre os atores. Alguns demonstram experiência e defendem o personagem com brilho, fazem com verdade e propriedade desenvolvendo uma empatia com o público como Michel Bercovitch e Paulo Giadini e outros parecem não saber ao certo o que fazer ou como sustentar a cena, o texto é jogado fora, o corpo aparece “jogado fora” como o texto. Talvez a irregularidade dos atores seja o maior problema da encenação, essa afirmação fica clara quando percebemos que o espetáculo caminha numa curva crescente, começa devagar, confuso e aos poucos vai acelerando, desenvolvendo uma relação e atenção com a platéia. Nesse mesmo início lento e apático é quando vemos as cenas com maior número de atores e personagens, e já o final, parte mais contundente termina com um ator em cena.
Os cenários e figurinos de Ronald Teixeira são bem simples e funcionais, o primeiro melhor do que o segundo. A opção pelo preto e branco nos objetos, adereços e tecidos fortalece o clima cinematográfico da encenação. A simplicidade do figurino é problemática em vários momentos, porque perde a teatralidade, parece roupa do próprio ator.
A temática da história é extremamente atual, e bem sucedida quando se propõe colocar em questão, o que e como vivemos hoje. Faz um recorte preciso e realista da condição em que se encontra a população carioca. Trabalhos como este são imprescindíveis nos dias atuais para evocar discussões e possibilitar transformações. No teatro do Sesc Copacabana podemos ver juntos, o encenador e cineasta Domingos Oliveira, apresentando talvez uma de suas obras mais políticas.

POSTANDO PARA DIANA HERZOG

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